fevereiro 26, 2004


Green Tree by Mattanin Woramala

fevereiro 25, 2004

- o futuro é mais à frente -

Do que fui..
resquícios de tinta, na solidão
de papéis envelhecidos..
desterro de memórias que o tempo agrupa
de idades imberbes
de quando se escreveu na primeira sepultura.

O que sou..
criatura que viaja, vigia
(n)esta vida que ruma incerta,
na certeza de que há-de vir
como todos os anteriores,
o dia seguinte.

A engrenagem que assume
e toma conta das vidas
apodera-se de mim.

Recolho as peças soltas
limo as arestas
procuro o rastro que perdi..

fevereiro 23, 2004

«.. A voz do nada penetra dentro dela. Um raio dourado cobre os seus olhos,
o corpo todo nu, o espírito está meio tranquilo e meio impetuoso... Ela sonha que um mar
de lágrimas corre pelas suas faces. Abre os olhos como as mulheres que vivem nas ilhas.
Mas está nua, deitada na areia, o mar à volta acaricia-lhe a pele encalorada. Obrigaram-na
a voltar à sua ilha. A essa mesma ilha em que, desejando construir o paraíso, se acabou
por criar o inferno.
Ela não sabe o que fazer. Para quê nadar? Para quê afogar-se? (...)»

"o nada quotidiano" - Zoé Valdés

fevereiro 20, 2004

" atrás de uma máscara, todos são iguais "
- Goldini -



fevereiro 19, 2004

- waiting for the sun -

At first flash of Eden we raced down to the sea,
standing there on freedom’s shore,
waiting for the sun.

Can’t you feel it now that spring has come,
that it’s time to live in the scattered sun?

waiting for the sun, waiting, waiting
waiting for you to come along,
waiting for you to hear my song,
waiting for you to come along,
waiting for you to tell me what went wrong.

This is the strangest life
I’ve ever known.

"waiting for the sun" by jim morrison and The Doors



Couple on the Shore by Edvard Munch, 1906-07

fevereiro 18, 2004

- corrosiva melancolia -

As lágrimas escorrem rosto abaixo
sem preocupação de as limpar.

misturam-se com o vinho

O que nos gasta por dentro
verte dentro do copo
o que sai e eu não quero que saia..
e bebo de novo!

Cálice de travo incerto
de sabor a tudo..
com aroma de nada..



Margin of Silence by Kay Sage, 1942

fevereiro 17, 2004

«..E basta-me saber que há sempre alguém a lutar contra a corrente
para me apetecer saltar,
ir nadar ao lado dele,
derretendo com o olhar
tdos os muros de gelo
e não consigo descansar
enquanto não alcanço uma nova nascente.

E quando te voltar a apetecer seguir em frente,
se me quiseres acompanhar,
canta uma canção de amor,
pinta os olhos cor de mar...
põe no teu peito uma flor,
traz um amigo qualquer
e vamos juntos abraçar o sol nascente. »

"há sempre alguém" by Jorge Palma



fevereiro 13, 2004

.. my wild love is crazy
s(he) screams like a bird
s(he) moans like a cat
when s(he) wants to be heard..

"wild love" by jim morrison and The Doors

- my wild love -



Passion Flowers and Humming Birds by Martha J. Heade, 1875-85

fevereiro 12, 2004

- la petite mort -

Dinâmica de eternos retornos:
devir e ser encontram-se
na boca do dragão, flamejante.

Criaturas furiosas, irrompem
imaginadas
dos auspícios do sangue quente

Seiva que percorre,
fervorosamente
os corpos desgarrados

..em alucinações caleidoscópicas, consumidos
..em nacos de carne tremula, transformados!

Crias de dinossauro que se extinguem ..
pequenas mortes que sucedem.

Chamas vivas que adormecem..
num sono bom
que nos embala..

fevereiro 11, 2004

- Itinerário Complementar -


pretensão
ambição
aspirações
intenção
inclinações do espirito para o prazer.

instinto que se move
procura fora de mim
aquilo que quero.

vontade
apetite
concupiscência
cobiça
anseio
saudade
desejo!...

fevereiro 10, 2004


sin - Franz von Stuck
Itinerário Principal

cada detalhe, 1 momento
palavra, pensamento
em cada momento, a memória de 1 beijo
em cada curva, 1 desejo
Cenário,
para quem entra por mim adentro.

fevereiro 09, 2004

- The Battle of Love -

Paul Cézanne, c. 1880
- de profundi nocte est -


No ermitério deste quarto
perscruto o fundo da noite..
(1 sinal de ti?)

Tudo guarda o teu segredo..

..e eu espeto-me no centro da terra,
(deixo que me entonteça no seu movimento de rotação)
de braços abertos,
estendidos,
pendidos..
Pés enterrados no chão.

Firmo a face ao firmamento

..e absorvo da noite escura
o que te guarda

dentro de mim.

fevereiro 06, 2004

- é o teu canto -


Caem esmeraldas como sementes,
nascem flores perfumadas:
é o teu canto!
Somente por ergueres as tuas flores,
aqui, no México, o sol deslumbra!

(poema ameríndio – mudado para o português por Herberto Helder)
- danças etéreas -


Se se tocam os olhares,
o mundo inteiro estremece.

Se as bocas se prometem
os lábios derretem, em sumo
de uva, de travo a maçã.
Os ventos sussurram..
As mãos cegas, apalpam
o escuro.. procuram.

Se dois pares de braços abertos se fecham..

o mundo some-se
em danças etéreas
de suor e de estrelas
como se fosse deles só.

- lord of dance -

Shiva no centro do universo e na presença de todos os deuses.
Através da dança e dos símbolos, mostra-lhes que é o Criador, o que preserva e o Destruidor .


Shiva as Lord of Dance (Nataraja), Chola period (880–1279)
ca. 11th century, Tamil Nadu, India

fevereiro 05, 2004

- noites emplumadas -


Aos seres que libertos
navegam, nas profundezas
de mares infinitos
sonhados em noites
de amplitudes irreais.

Vaidades de espíritos
que não se acomodam
e passeiam na escuridão
de uma lua nova, nos
olhos dos gatos pardos,
em delírios de poetas.

- em voo livre -

Pássaros perdidos
com destinos nas asas.

Prolongamentos de ser e não ser.

Frases soltas, que navegam
no espírito.

Alma errante
em si mesma.

Sonhos que ganham cor.

Belezas que se reabilitam.

Regresso a mundos, onde
nunca se deixou de ir.



(honey is sweeter than blood by Dali - 1941)
- levantar do chão -

Retomar as razões de
coração, que se veio a si mesmo
achado sozinho
derramado no chão.

Dos ferimentos profundos, que
cicatrizam
deixam de doer
e a marca indelével
que não permite deslembrar.

Do veneno brando..
(mal tomado)
Do pó da cinza..
(que engasga)
Daquele doce..
que amarga!

Apanhar do chão, o coração
que procura a sua fala
outra vez.



fevereiro 02, 2004

- canto de guerra -
(apaches)


1
Os pássaros
vêm
do sul.
Escuta: seus gritos passam.

2
Arremesso-me
com todo o corpo.

3
No extremo da terra
a luz bate-lhe primeiro.
Dá-me
o teu poderio,
ó Espírito Grande.

(poemas ameríndios – mudados para o português por Herberto Helder/ assírio & alvim)

Exempt Nude

Despir .. de tudo.
Partir de uma nudez isenta de convenções e protocolos
partir de mim
partir para o mundo..
Partir tudo!..

Abrir as portas de uma mente demente.
Tirar a mordaça
que mantém o monstro mudo.