abril 30, 2004

- um dia tiraremos o chapéu um ao outro -

" Apesar de não nos vermos
imagino muitas vezes o nosso encontro
excepcional
à saída da livraria, de manhã cedo num café de bairro
noutro bairro.
O silêncio saboreado.
Uma amizade pode ser instável como as marés
sempre presentes mas nunca retidas.


Falar é impensável. Por manuscrito, letra duvidosa mas
inspirada?
Assim, este silêncio que é uma longa espera, uma absurda espera
já não será um arco flexível, com pulmões impetuosos
mas um fio frouxo caído no fundo da língua
fibra de um fruto tropical.
Continuemos amigos, continuemos a interrogar este silêncio preenchido
por factos pouco improváveis
silêncio vigiando os dias que passam.
Um dia tiraremos o chapéu um ao outro (e nós não usamos chapéu) "
29. [TVV]

Desejo # 2, in Alentejo Ilustrado – suplemento integrante do Diário do Alentejo n.º 1140 (II série) de 27 de Fevereiro de 2004.

abril 29, 2004

- Logic of the Birds -



by Shirin Neshat

abril 27, 2004

- primavera sem tempo e sem espaço.. -

seca
vaga de cores
a primavera passa discreta..

o tempo não sabe nada.

o tempo não sabe nada
o tempo não tem razão
o tempo nunca existiu
é da nossa invenção

se abandonarmos as horas para nos sentirmos sós
meu amor o tempo somos nós

e o espaço tem o volume da imaginação!

o espaço tem o volume
da imaginação
além do nosso horizonte
existe outra dimensão

o espaço foi construído sem princípio nem fim
meu amor tu cabes dentro de mim

o meu tesouro és tu
eternamente tu
não há passos divergentes para quem se quer encontrar

a nossa história começa
na total escuridão
onde o mistério ultrapassa
a nossa compreensão

a nossa história é o esforço para alcançar a luz
meu amor o impossível seduz

o meu tesouro és tu
eternamente tu
não há passos divergentes para quem se quer encontrar..


o tempo não sabe nada - Jorge Palma

abril 26, 2004

- a puta da subjectividade -


sem título by J. Pollock

.. "A Puta da Subjectividade orgulha-se em apresentar o seu novo reforço vitamínico:
o Caldo Verde. Se um dos nossos objectivos é uma puta em cada esquina, pareceu-nos
indissociável desse propósito a associação de um dos baluartes da culinária - e da cultura
puteira - lusitana"..


Isto é o aperitivo para um site dedicado à Arte.. "a puta".. que é de todos, em todos os quadrantes.

http://www.aputadasubjectividade.net/

abril 22, 2004

- Me, myself & I .. uma pequena paragem -



Bärtiger Mann im Segelboot in Tropischer Landschaft... 1908/ 09
by Oskar Kokoschka

abril 19, 2004

- was kein engel weiss? -


asas do desejo by Wim Wenders

não pode um anjo sonhar?

como a trapezista em vestes de anjo que deseja ser amada..

Desejo do amor.
Desejo de solidão.

(porque solidão quer dizer, encontrar o "ser" em toda a sua extensão
viver com ele e isso bastar)

de que vive o anjo que contempla do cimo da cidade
as angústias
as esperanças
as memórias
os sonhos
as paixões humanas
e sabe não poder experimentar.. nem cortar um dedo?..

vaguear sob a vida e ver tudo preto e branco.

Não sentir
para se ser eterno.

(também penhorava a armadura de anjo,
se isso me permitisse olhar e pensar
que desta vez é verdade)


abril 16, 2004

- correspondências -

Nature is a temple where the living pillars
Permit, from time to time, confused words to escape;
Here mankind will cross by, where symbols take the shape
Of forests gazing on his progress like familiars.


by I. Saudek

As distant, verb rating echoes can resound
Together, mingling deep and shadowed harmony
As vast as midnight and as vast as clarity,
So can each scent and hue and sound to each respond.

(...) Having the expansion of infinite things,
Like ambergris and musk, benzoin and frankincense,
Which sing the transports of the mind and every sense.


Correspondences by C. Baudelaire

abril 12, 2004

" O FIM?
Quando disseram que a Alquimia era uma FARSA e esqueceram que
tudo o que não é Alquimia também é uma FARSA.
O que é que não é FARSA?
O que impede a MORTE.
O corpo que dança pode impedir a morte?
Não. Tudo é FARSA. Mas o corpo que dança pode obrigar os OUTROS
ao desejo de impedir a Morte.
Uma explicação?
O Prazer é muito mais baixo que o Desejo.
O Desejo é alto, é o que não se toca, queremos TOCAR.
O Prazer é baixo, é o que se TOCA
Uma definição rápida?
O Desejo é uma Prateleira do Céu.
Outra definição?
O Céu é uma Prateleira de deus.
Outra ainda?
deus é uma prateleira do homem.
Uma correcção?
deus pode ser uma prateleira do homem.
uma indicação final?
O início.
a alma?
a indicação final.
Coreografias?
ocupar espaço antes dele nos ocupar.
O amor?
não respondo à Ciência, não sou capaz.
O amor?
a ciência a grande Ciência."

by M. Tavares, Livro da Dança

abril 06, 2004

- eles ignoram -

"Queria ser justo, correr o mundo
evitar ser racional, comunicar.
Mas longe de tudo, sem arriscar
não quero perder-me, não sinto nada.
(...)

No outro lado de mim, eu acordo
não tenho inocência, mas o dom
de uma perversa serenidade
que tudo ilumina e silencia..."


by C. Moisés/ J. Portela – Quinta do Bill

abril 02, 2004

- liefdesdroom -


by Willem Martens

would you take me there?..

abril 01, 2004


Studie für L'Offrande by Fernand Khnopff 1891

- who shall delivery me? -

" God strengthen me to bear myself;
That heaviest weight of all to bear,
Inalienable weight of care.

All others are outside myself;
I lock my door and bar them out
The turmoil, tedium, gad-about.

I lock my door upon myself,
And bar them out; but who shall wall
Self from myself, most loathed of all?

If I could once lay down myself,
And start self-purged upon the race
That all must run ! Death runs apace.

If I could set aside myself,
And start with lightened heart upon
The road by all men overgone!

God harden me against myself,
This coward with pathetic voice
Who craves for ease and rest and joys

Myself, arch-traitor to myself ;
My hollowest friend, my deadliest foe,
My clog whatever road I go.

Yet One there is can curb myself,
Can roll the strangling load from me
Break off the yoke and set me free. "


by Christina Rossetti, 1864